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Testemunhos no 40º Aniversário da O.V.A.R.

  Na reunião comemorativa do 40º aniversário da O.V.A.R. (Obra Vicentina de Auxílio aos Reclusos), havida em 27/11/2009, decidiu-se que esta efeméride deveria ficar marcada com a edição duma pequena revista integrando os depoimentos dos vicentinos ligados à O.V.A.R., nesta altura, referindo como entraram para esta Obra, assim como reproduzindo a acta da 1ª reunião havida em 27/11/1969 como forma de homenagearmos aqueles que há 40 anos tiveram o empenho e os nobres sentimentos para fazerem nascer tão prestimosa Obra. A estes fundadores estamos todos muito gratos, já que se hoje continuamos a obra que nos legaram só o fazemos porque o seu espírito de caridade e amor ao próximo nos contagiou. São estes valores cristãos que presidiram à fundação da O.V.A.R. e que continuam a nortear a sua acção.

 

  Nesta revista, inserimos os estatutos e as normas de conduta do visitador, aprovadas há 15 anos. São documentos com algum grau de desactualização, importantes pela história que nos deixam, e que continuam a vigorar, já que o espírito que tem norteado a acção dos vicentinos da O.V.A.R. consegue conviver com todos os normativos que coloquem a ajuda aos mais necessitados como tarefa principal, na linha que nos foi deixada por S. Vicente de Paulo e Beato Frederico Ozanam.

 

  A edição desta revista é, também, uma oportunidade para saudar num caloroso abraço vicentino a quem nos tem ajudado e agradecer a todos os dirigentes do Conselho Central, actuais e passados, o apoio que nos têm proporcionado, assim como aos capelães dos estabelecimentos prisionais da Diocese do Porto e aos outros voluntários das prisões, sentindo que nas suas pessoas estamos a envolver os nossos irmãos vicentinos da diocese do Porto que há 40 anos conceberam esta Obra que nos foi deixada em legado, comprometendo-nos a acarinhá-la, em honra dos seus fundadores, em memória de S. Vicente de Paulo e do Beato Frederico Ozanam e em prol daqueles para quem foi criada.

 

  Uma última palavra para aqueles a quem dedicamos esta Obra: Os reclusos.

 

  Quando semanalmente os visitamos nas prisões, ou visitamos as suas famílias, sentimos que estamos em comunhão com Jesus Cristo. Foi Ele que disse: “……Estive na prisão e vieste ver-Me…… Sempre que fizestes isto a um dos meus irmãos mais pequeninos foi a Mim mesmo que fizestes.” (Mt 25, 36-40)

 

 

 

                                                                                                                                                                                                                       Porto, Novembro de 2010

                                                                                                                                                                                                                        O Presidente da O.V.A.R.

                                                                                                                                                                                                               Manuel Hipólito Almeida dos Santos

A minha participação na O.V.A.R.

  Leonel Óscar da Conceição

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  O motivo que me levou a participar na Obra Vicentina de Auxílio aos Reclusos (O.V.A.R.) foi muito simples: conhecia a maioria dos fundadores; sou um vicentino muito antigo da Conferência do Senhor do Bonfim, da Igreja do Bonfim, tendo entrado para a Conferência no ano de 1948.

  Passados poucos anos comecei a ser convidado para vários cargos das Obras Vicentinas. Fiz parte da Direcção do Conselho Particular do Porto; do Conselho Central do Porto; da Associação das Creches de S. Vicente de Paulo; das Obras Sociais de S. Vicente de Paulo; do Farrapeiro de S. Vicente de Paulo e da Casa de Ozanam. Esta grande Obra deve-se ao grande impulsionador Manuel Guedes embora também tenha tido um grande auxílio do Conselho Nacional, de todos os Conselhos e também uma grande ajuda de todas as Conferências Vicentinas.

  Já me tinha retirado de tudo a que tinha feito parte, no ano de 1992, quando fui convidado por Adão Pinto, Pinto Mesquita e Joaquim Lucas a fazer parte da Obra Vicentina de Auxílio aos Reclusos. À qual me dediquei com todo o meu esforço, empenho e amor.

  Fiz parte de alguns lugares na Direcção.

  Estivemos seis anos sem Direcção, pois embora os lugares estivessem preenchidos as pessoas não compareciam. Passei a ter os três lugares na Direcção, isto é, de Presidente, de Secretário e de Tesoureiro.

  As reuniões eram feitas todos os meses com a dedicação dos visitadores das cadeias: Carlos Costa, José Cunha e esposa, Álvaro Rodrigues, Sousa Marques e outros, os quais não me recordo o nome.

  Tivemos a grande dedicação dos Conselhos e das respectivas Conferências, com a sua ajuda monetária, pelo Natal, para assim podermos prestar algum auxílio aos reclusos e suas famílias.

  Não quero terminar estas simples linhas sem agradecer aos meus queridos colegas e amigos o grande esforço e dedicação que dedicaram a esta grande Obra.

  Peço a esta nova Direcção e aos Visitadores que continuem a manter o Amor, o carinho e a dedicação que já têm demonstrado.

  Como já estou com 89 anos penso que deve ser o último ano que faço parte como membro desta maravilhosa família.

 

 

 

 

  Álvaro da Conceição Rodrigues

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  Sendo eu Vicentino na Paróquia de Serzedo desde 1996, numa das nossas reuniões, o Presidente solicitou a quem estivesse disponível a participar nas visitas aos reclusos, que seria um trabalho muito importante. Nessa altura, logo se disponibilizaram sete casais, o que foi muito bom. 

  Infelizmente, com o passar dos anos, alguns foram desistindo, mas eu sempre lutei, convidando um ou outro que tivesse transporte para dar continuidade a este trabalho.

  Presentemente outras pessoas a quem convidei, após terem participado em algumas visitas mostraram-se interessadas em colaborar comigo, no qual eu me sinto muito feliz por isso.

  Também não quero deixar de lembrar o nosso irmão Lucas, que já na sua doença sempre nos encorajou e incentivou a não desistirmos.

  Quero também agradecer ao nosso Presidente e toda a equipa, pelo trabalho que têm vindo a desempenhar, mas de uma maneira muito especial, ao Confrade Leonel Óscar, por todo o esforço, empenho e dedicação, que tem vindo a demonstrar ao longo destes anos.

  Sem ele não poderíamos dar continuidade a esta grande Obra.

  Um bem-haja.  

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  Ana Ramos

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  Tenho ainda um breve percurso como visitadora no Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira. Muitas coisas tenho a converter dentro de mim em relação aos reclusos e guardas prisionais.

  Fui convidada pela Maria Adelina, creio haver uns 3 anos, para integrar a equipa visitadora. Acedi começar com algumas reticências e uma assiduidade com algumas lacunas, dado outros compromissos assumidos.

  Ao entrar pela primeira vez na prisão fui tocada e impelida pelas palavras do Evangelho, que noutros momentos, me tocaram de igual modo: “Estava doente, na prisão e vieste visitar-me, aflito e em dificuldades e vieste em minha ajuda, triste e consolaste-me!!!”.

  Ao longo do meu caminho, sempre a predilecção pelos mais desfavorecidos, abandonados, pobres, velhinhos, esteve nas minhas prioridades.

  E aqui quero deixar este meu testemunho:

  Foram estes pobres entre os demais, não esquecendo as crianças, que sem saberem foram os que mais me evangelizaram e me ajudaram na conversão a Jesus Cristo. A eles devo o meu muito obrigado e o meu carinho.

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  Ana Rosa de Jesus

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  Comecei por fazer voluntariado no Hospital Santos Silva. Aí, conheci uma amiga, que me convidou a fazer uma visita aos reclusos, aceitei, fui à visita e gostei da experiência.

  Também encontrei irmãos nossos, como os Confrades Lucas, o Álvaro Rodrigues, fiquei muito feliz.

  Admirei a coragem do nosso irmão Lucas, que sempre amou este voluntariado de uma forma inexplicável.

  Lembro-me já na sua fase terminal, estando ele no hospital e eu a dar-lhe a comida na boca, ele fez-me este pedido: “Nunca deixes de visitar os reclusos”, este pedido ficou-me sempre no coração.

  Através deste irmão, e também do Álvaro Rodrigues, que passei a fazer parte desta maravilhosa Obra, na qual me sinto muito feliz.

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  Irmã Maria de Lurdes Mota

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  Foi a partir de 1980, que em mim surge um forte apelo para me tornar visitadora de prisões.

  Após 27 anos, reclusos e reclusas, continuam muito presentes no meu espírito e oração.

  Em Junho de 2006, reacendeu-se no meu espírito, esse apelo, mas que agora me deixa inquieta! Não sabia a quem dirigir-me para me integrar num grupo de visitadores. Precisamente, num desses momentos, em que me interrogava, encontrei, providencialmente, estou certa, o Padre Fernando Soares, Conselheiro Espiritual do Conselho Central do Porto da Sociedade de S. Vicente de Paulo, que me indicou a O.V.A.R..

  Iniciei, então, o trabalho na Prisão de Paços de Ferreira, com um grupo de vicentinos, também eles visitadores, que muito me edificaram. São cristãos comprometidos que vivem numa grande doação de entrega aos outros.

  Como Religiosa da Congregação do Bom Pastor, cujo Carisma é o Amor Misericordioso do Pai, era pois, meu grande desejo fazer Pastoral, no Estabelecimento Prisional Feminino, o que se concretizou em Santa Cruz do Bispo, agora também com a ajuda da O.V.A.R..

  Estou feliz, mas posso confessar, que tenho recebido muito mais, do que aquilo que eu possa fazer, não só dos visitadores como também dos próprios reclusos.

  Bem-hajam, visitadores Vicentinos! Peço que continuais a anunciar o Deus Amor!

  Obrigada pelo vosso testemunho.

                       

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  Maria José V. Amorim

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  Há 12 anos, em 1998, vi a visitadora Maria da Glória Pereira, que ia ao Estabelecimento Prisional de Custóias, carregada com uns enormes sacos cheios de calçado e agasalhos para os reclusos. Nesse dia, estava com disponibilidade de tempo e resolvi ajudá-la.

  Acompanhei-a até ao Estabelecimento Prisional com a intenção de voltar para trás, uma vez que não tinha autorização para entrar, nem tal me ocorrera. Porém, chegadas à portaria, Nosso Senhor, encarregou-se de nos presentear e facilitou a minha entrada, com uma autorização inesperada.

  Desde esse dia, não deixei de, às quartas-feiras, visitar o Estabelecimento Prisional de Custóias.

  Era coordenador do grupo de visitadores o Confrade Carlos Costa, Presidente da Conferência vicentina da Paróquia de Custóias e membro da Direcção da O.V.A.R., que me acolheu e instruiu nesse voluntariado de assistência aos reclusos.

  Dou graças e louvo a Deus pela graça com que vai tecendo a teia que faz os seus filhos encontrarem-se, se contemplar e partilhar as dificuldades e alegrias que a vida os vai apresentando nesta peregrinação a caminho da felicidade eterna.

  Obrigada PAI!

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  Joaquim de Sousa Marques

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  Encontrei o cartão cuja fotocópia junto, que prova que em 1994 já tinha sido admitido na O.V.A.R. (a impressão está um pouco ilegível, mas considero que não há dúvida).

  Deixei de leccionar em Setembro de 1986.

  Neste intervalo tive uns fortes ataques de epilepsia que me tiraram quase totalmente a memória, pelo que não me é possível a determinação rigorosa da admissão.

  A minha vontade era oferecer-me para algo de útil e não remunerado, visto sempre ter vivido a reboque do dinheiro.

  Escolhi as prisões por me parecer o mais extremo.

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  Maria Adelina Ramos

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  Integrada na Conferência de S. Vicente de Paulo da minha paróquia, tinha conhecimento de que havia vicentinos que iam regularmente visitar os presos.

  Esta era uma actividade que não me despertava qualquer interesse e até achava uma perda de tempo, estavam lá e muito bem porque tinham prejudicado ou matado alguém e deviam ser castigados por isso!

  Entretanto, um desses voluntários convidou-me a fazer parte de um grupo que semanalmente ia ao Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira, a O.V.A.R.. De imediato recusei, mas ele insistiu, e sempre que havia reunião da Conferência, o Sr. Álvaro fazia o favor de me lembrar e pedir os dados necessários para a autorização para entrar na cadeia. O maior problema foi quando chegou a hora de ir a Paços de Ferreira!

  Foi no dia 4 de Dezembro de 2005 que entrei pela primeira vez na cadeia e não posso esquecer as emoções que aconteceram nesse momento. Uma mistura de medo, ansiedade, curiosidade, expectativa, enfim uma confusão de sentimentos difíceis de exprimir. Acho que também tive que arranjar muita coragem para dar esse passo que nunca tinha imaginado dar e que nesse momento era muito complicado para mim.

  Porém, o cenário encontrado era totalmente diferente daquele que eu imaginava: os corredores cheios de homens que conversavam, passeavam, fumavam, jogavam cartas, todos com aspecto bem limpo e arranjado e na sua maioria jovens. O ambiente calmo e controlado. Havia um grupo que esperava a visita dos voluntários e o respeito e o carinho com que esses reclusos nos acolheram, em especial ao Padre Correia, ao Professor e à avozinha, assim tratavam a Ana Rosa, traduziam uma familiaridade e amizade antiga que me fizeram acalmar.

  Vi rostos de muitas formas e feitios, alguns tão doces que me parece impossível terem cometido algum crime. Aqueles rapazes fizeram-me lembrar os meus filhos, muitos eram da mesma idade ou até mais novos, e pensei como seriam as suas famílias, como seriam os seus amigos, como seriam as suas vidas para os ter levado até à cadeia.

  E pensei também na minha vida, na minha família, nos meus amigos … e surgiu uma questão que tinha pensado: se eu tivesse nascido numa família como a deles, se tivesse tido os amigos que eles tiveram, se eu tivesse as dificuldades económicas que uma grande parte deles fazia transparecer será que também não ia acabar numa cadeia?

  A resposta afirmativa que saltou de imediato obrigou-me a não mais deixar de ir visitar aqueles homens, aqueles rapazes que são filhos de Deus e têm direito a uma vida digna e a serem felizes.

  Muitos ainda têm família que os visita mas uma grande parte daqueles homens, estão ali arrumados e bem fechados.

  A nossa visita é, para alguns, um momento de alegria e de apoio humano e espiritual que me parece importante nas suas vidas.

  Aquilo que levo e dou não sei se é muito ou pouco, procuro dar o meu máximo, sempre com o pensamento: “ Estava na cadeia e foste visitar-me”.

  E assim entrei e continuo na O.V.A.R..

                       

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  Maria da Glória Pereira

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  Vale a pena darmo-nos

  Foi pertencendo à O.V.A.R. que me senti apoiada para partilhar aquilo que a mim me havia feito feliz e que também tinha para dar: - O SORRISO.

  Consciente do valor de um sorriso, que me fez muito feliz quando me foi dirigido num período de grande provação, quis por minha parte reparti-lo com os que nada têm a não ser a dor e a angústia.

  Pensando nisso quis, apesar da minha pobreza e fragilidade, ser junto dos reclusos, semeadora de sorrisos e alguma alegria.

  Não se trata de alegria fingida, oca ou balofa, mas da alegria sã que vem de dentro, do coração, nascida da Fé em Nosso Senhor Jesus Cristo – porque sei que foi Deus me ama e Jesus que me convida a fazer aos outros o que quero que me façam a mim (Mt 25, 31 – 40): “tive fome e deste-me de comer, estava triste e consolaste-me, na prisão visitaste-me ........ Todas as vezes que fizeste isto a um dos mais pequeninos foi a mim que o fizeste.”

  Tal como o sorriso, também o canto tem um efeito curativo para as mágoas e tristezas.

  Então o meu testemunho é este: através do sorriso e do canto, tenho a felicidade de ter transmitido uma mensagem, pequenina é certo, mas suficiente para dizer: VALE A PENA DARMO-NOS.

 

 

 

 

  Rosa Angélica Couto Alves Sousa

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  Numa das nossas reuniões de Vicentinos na Paróquia de Serzedo, foi-me solicitado pelo nosso irmão Álvaro Rodrigues, aceitei, embora não ficasse nada combinado, ele não deixou de o lembrar de vez em quando, até que um dia lá combinamos mesmo e lá fomos a Paços de Ferreira visitar os nossos irmãos reclusos.

  Na verdade, fiquei muito feliz, pois em 1967 também um irmão meu teve um problema com o serviço militar e esteve preso na Casa de Reclusão do Porto, foram só três ou quatro meses, mas foi o suficiente para me disponibilizar para com esses nossos irmãos.

  Nessa altura eram mais difícil as visitas, apesar disso eu já lhes levava selos, postais, revistas religiosas, cheguei a corresponder-me com alguns deles, só deixei de o fazer em 1975, quando casei.

  Hoje agradeço a Deus por me ter chamado a esta grande Obra que é a O.V.A.R..

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  Carlos Costa

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  Sem a partilha de uns para com os outros certamente não teríamos coragem para chegar a parte nenhuma.

  Porém o juntarmo-nos para partilharmos as nossas vivências e pensarmos em conjunto na resolução de algumas dificuldades, deu-me força para prosseguir na formação espiritual e na sensibilidade necessária que a relação com o recluso requer.

  A função de visitador a reclusos exige uma abertura de acolhimento para gerar simpatia e assim se poder partir para o diálogo e a confiança.

  Temos de estar preparados para um relacionamento franco.

  Não podemos dar falsas expectativas, o que prometemos, temos de cumprir.

  É na influência de harmonização de um relacionamento familiar cortado, que temos a recompensa.

  Nestas situações, basta-nos um sorriso da parte deles, para que a nossa alma estale de contentamento.

  Tenho nestes 40 anos de visitador vicentino a vivência de muitas histórias agradáveis com reclusos.

  Sonha-se agora com a prisão aberta.

  Ter passado a(s) noite(s) de Natal com eles, distribuindo lembranças foi de uma gratificação muito grande, superada pelo acontecimento maior que é a Visita Pascal.

  Que alegria!

  A razão de ser para estar na O.V.A.R.

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  Manuel Hipólito Almeida dos Santos

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  Corria o ano de 1999. Dum outro país, Equador, veio um pedido urgente, através de uma amiga da Amnistia Internacional, para ajudar uma jovem mãe que se encontrava detida no Estabelecimento Prisional de Custóias por posse de documento de identidade falso e que precisava de ajuda humanitária.

  Através de uma guarda prisional amiga consegui autorização para visitar essa reclusa e o caso despertou em mim o interesse de me integrar num voluntariado de ajuda às pessoas presas, tais foram as desumanidades que presenciei.

  A situação prisional já não me era indiferente pois aquando do exercício de funções dirigentes na Amnistia Internacional tinha sido tocado para essa realidade, além de desde jovem me impressionar essa instituição medieval que a sociedade faz o possível para não conhecer e, até, tentar justificar a sua existência. Sempre entendi que a prisão não promove o ressarcimento dos danos provocados às vítimas (só satisfaz o espírito de vingança – sentimento gerador de infelicidade em quem o possui), não promove a reinserção social da maioria dos reclusos, provocando danos profundos nas famílias dos envolvidos, não tendo efeito dissuasório na prevenção de novos crimes (além de serem estruturas que custam muito dinheiro ao erário público).

  Diligenciei então junto de pessoas conhecidas para saber a melhor forma de exercer esse tipo de voluntariado.

  Foi passando o tempo sem eu ver, por desconhecimento, uma organização credível para tal propósito até que, em 2004, em contacto com o meu companheiro rotário Luís Nunes, de S. Mamede de Infesta, membro duma conferência vicentina, que me tinha convidado para uma palestra sobre direitos humanos no seu clube rotário, indicou-me aos dirigentes de então da O.V.A.R., nomeadamente ao Confrade Leonel da Conceição. Por este fui contactado para estar presente numa reunião da O.V.A.R. em Janeiro de 2005, escolhendo começar a minha acção como visitador na prisão de Paços de Ferreira, já que os visitadores desta prisão estavam com algumas dificuldades de meio de transporte para aos Sábados fazerem a sua visita semanal. Iniciei então o processo de obtenção do cartão de acesso que permite a entrada no Estabelecimento Prisional e comecei as visitas semanais, passando, também, a ser visitador dos estabelecimentos prisionais de Custóias e de S. Cruz do Bispo, sendo, actualmente, visitador mais frequente do E.P. de Santa Cruz do Bispo.

  E cá estou na O.V.A.R. com a consciência de estar a exercer uma acção que a ninguém prejudica e que, eventualmente, pode ser útil a alguém. Mas o maior beneficiário tenho sido eu com a enorme experiência de humanidade que este tipo de voluntariado me tem proporcionado. Fico com a responsabilidade de fazer passar para a sociedade esta riqueza humana que estou a adquirir.

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